Sobre a natureza e o meio ambiente





Trecho: "...venerar a natureza também é um meio de fuga. Estamos sempre usando a natureza quer como uma fuga, quer para fins utilitários — nunca nos detemos de verdade e amamos a terra ou as coisas que ela nos dá. Não apreciamos os campos férteis, embora os usemos para nos alimentar e vestir. Não gostamos de cultivar a terra com nossas mãos. Temos ver­ gonha de fazer trabalhos manuais. Afinal, esse trabalho só é feito pelas castas inferiores. Nós, as classes superiores, aparentemente somos demasiado importantes para usar as próprias mãos: por­tanto, perdemos o nosso relacionamento com a natureza.
Se tivéssemos entendido esse relacionamento, a sua real im­portância, não dividiríamos a propriedade em sua ou minha; em­bora tivéssemos um lote de terra e construíssemos uma casa, esta não seria “minha” nem “sua” no sentido da exclusividade — seria mais um modo de buscar abrigo. Pelo fato de não amarmos a terra e os seus produtos mas simplesmente os usarmos, somos insensíveis à beleza de uma queda d’água, perdemos o contato com a vida, não nos recostamos no tronco de uma árvore. Já que não amamos a natureza, não sabemos amar os seres humanos e os animais. Vão até as ruas e observem como os bois são mal­tratados, como a cauda dos bois perdem a forma. Vocês balançam a cabeça e dizem: “Mas como isso é triste.” Contudo, perdemos a ternura, a sensibilidade que reage às coisas belas, e é apenas na renovação dessa sensibilidade que podemos entender o que é um verdadeiro relacionamento. Essa sensibilidade não surge com o mero fato de pendurarmos alguns quadros na parede, nem de pintarmos uma árvore, nem de colocarmos flores no cabelo."

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